quarta-feira, 25 de abril de 2007

Quem tem padrinho não morre pagão

Não é de hoje que muita gente séria dentro do boxe não consegue engolir as atitudes das principais entidades que regem o esporte em todo mundo. Várias são as denúncias de favorecimento a lutadores, empresários, managers, além do fato de fazerem verdadeiras "vistas grossas" para decisões de árbitros e mesmo para a contagem às vezes impensáveis de juizes.

Invariavelmente, essas verdadeiras instituições caça-níqueis adotam uma postura simplória, ou seja, apoiam de olhos quase fechados os atletas que prestigiam seus cinturões. O maior exemplo dos últimos meses é o argentino Mariano Carrera. Pego no exame antidoping após a conquista do título dos médios (72,5k) sobre o espanhol Javier Castillejo (em 2 de dezembro do ano passado), a Associação Mundial de Boxe demorou muito tempo para dar um veredicto sobre o caso.

A princípio a AMB não quis definir uma posição, insinuando que o laboratório do Instituto de Bioquímica de Colônia (Alemanha) poderia ter cometido um erro nas análises de urina. A contraprova identificada por uma das maiores e mais prestigiosas autoridades do mundo no assunto não deixou dúvidas: Carrera fez uso da substância Clembuterol.

Pressionada principalmente pelos europeus a AMB decidiu devolver o cinturão a Castillejo, suspender Carrera por seis meses e alterar o resultado do combate - em que o argentino havia vencido por nocaute técnico no 11º round, para desclassificação no mesmo assalto em favor do espanhol. Mas nada como escutar os amigos de todas as horas para mudar de opinião. Afinal, Mariano Carrera tem sua carreira conduzida pelos dois principais promotores de boxe em seu país.

Em um comunicado "de caráter final e sem direito a qualquer apelação" a AMB alterou suas decisões anteriores. Dizendo-se satisfeita com a defesa do argentino na qual, entre outros pontos, o atleta fez uso involuntário da droga, a entidade reduziu a pena para quatro meses (vencida no último dia 2 de abril) e, o pior, resolveu considerar o combate entre Carrera e Castillejo "sem decisão".

São atitudes como essa que denigrem a imagem que se quer do esporte. Os acordos de bastidores, as negociatas, o envio de dinheiro a paraísos fiscais e toda sorte de malfeitorias, criam um círculo vicioso em que - em algum momento - perde-se total confiança nos dirigentes e nas entidades que presidem.

Para tentar fazer com que os aficionados esqueçam rapidamente a decisão no "caso Carrera", a AMB ajudou a acelerar o encontro entre Castillejo e Felix Sturm. Ambos lutam pelo cinturão da entidade neste sábado (28), na Alemanha, em uma revanche não prevista. Isso porque Castillejo havia roubado o título de Sturm em julho ano passado por nocaute técnico na 10ª passagem.

O veterano espanhol de 39 anos (61-6-0, 41 KOs), foi derrotado uma única vez por nocaute há 12 anos, enquanto o alemão Sturm de 28 anos (26-2-0, 12 KOs) é o mesmo que perdeu a invencibilidade e o título dos supermeio-médios (69,8k) para Oscar de La Roya em 2004, em uma decisão por pontos que a nosso ver foi totalmente injusta.

Enquanto Castillejo e Sturm se digladiarão no ringue, os amigos fiéis da AMB - incluindo Mariano Carrera e seus agentes - assistirão ao embate em Buenos Aires pelo sistema pay-per-view, regados a vinho, a um bom bife de chouriço e a um tango de tom dramático que identifica muito bem o quadro atual do boxe: "Balada para un loco", de Astor Piazzolla.

LUVAS CRUZADAS

Sem rival - O peso pesado George Arias (39-9-0, 27 KOs) não encontrou dificuldades para derrotar Gilton dos Santos (15-10-1, 12 KOs) por nocaute técnico no quinto round. Gilton abandonou a disputa ao final do quarto giro após sofrer castigo em todos os roundes e um corte acentuado acima do olho direito. O combate, realizado no último sábado, 21, valeu a defesa do título brasileiro e o cinturão Intercontinental Mundo Hispano que estava vago.

Sem oferta - Logo no dia seguinte após seu triunfo, a equipe de Arias entrou em contato com os agentes de Gonzalo Omar Basile (29-2-0, 13 KOs) para uma possível unificação de títulos, já que o argentino é o atual campeão Mundo Hispano. A resposta foi imediata. Acostumado a enfrentar adversários fracos e apoiado pelo Sindicato dos Caminhoneiros em seu país, Basile mandou dizer que não enfrenta Arias. Não abriu margem para escutar nenhuma oferta financeira

Sem vida - Após sofrer forte castigo na cabeça durante quatro roundes, o filipino Lito "Angelito" Sisnorio morreu no início do mês em Bangcoc (Tailândia). Ele havia sido derrotado por nocaute pelo ex-campeão mundial mosca (50,8k) do CMB, Chatchai Sasakul, em um combate não-autorizado pela Comissão Filipina de Boxe. Sisnorio, 24 anos, estreou em 2003 e foi campeão mundial sub-23 no ano passado. É a segunda morte nesta temporada que se tem notícia. Em março a vítima foi o indonésio Anis Dwi Mulya.

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